O Guia de Como Aprender Idiomas: Aprenda o passo-a-passo

Antes de começar, já vamos acabar com o mito de que é preciso Talento, dom, para aprender idiomas, esportes ou algum instrumento musical.

Geralmente, só vemos o resultado final – poliglotas, campeões mundiais e grandes artistas – e achamos que tudo o que conquistaram foi por um dom divino, não levando em conta todo o duro processo que foi percorrido para atingir esses resultados.

Mozart foi um prodígio. Desde pequeno, sempre se destacou tocando e compondo. Mas você sabia que o seu pai era um grande pianista e fez com que o pequeno Mozart (aliás, um ótimo filme para quem gosta de música e quer praticar inglês: Amadeus (film) – Wikipedia) praticasse desde os seus 4 anos de idade?

Em 1993, um professor da Universidade do Colorado publicou um estudo chamado “O Papel da Prática Deliberada na Aquisição de Performance Extrema” (tradução livre), no qual introduziu o conceito de 10.000 horas.

Nesse estudo, um grupo de psicólogos monitorou as práticas de rotina de estudantes de violino que tinham um grande potencial para ser solistas internacionais. Todos eles estavam na Academia de Música de Berlim e começaram a tocar com 5 anos de idade. 

No início do estudo, os hábitos dos violinistas eram praticamente os mesmos. Aos 8 anos de idade, alguns já estavam praticando mais do que outros e, aos 20, os melhores violinistas tinham atingido 10.000 horas de prática cada um. 

E sabe qual foi o que eles falaram que foi o principal fator que ajudou a atingir esse nível tão alto? “Praticar sozinho”.

A conclusão do estudo é bastante clara:

“Nós vemos os maiores violonistas como um resultado de década ou mais de máximo esforço para melhorar sua performance em um campo através de prática deliberada distribuída durante esse tempo. O comprometimento com a prática deliberada é o que distingue um expert da vasta maioria de crianças e adultos que possuem uma enorme dificuldade enfrentando muito menos demanda de práticas em escolas.” Anders Ericsson

Precisa de tempo! Os grandes compositores levaram décadas de estudo e prática antes de criar uma grande peça.

Segundo o professor John Hayes, da Carnegie Mellon, somente após 20 anos de estudo que compositores criaram a sua primeira peça realmente incrível.

Para Hayes, essa longa “preparação” na música se deve porque “o compositor deve saber os timbre de vários instrumentos e o som e sensação de cada acorde e estrutura de teclas”. 

Mas calma! Não estamos aqui para passar 10.000 horas estudando um idioma. Essas 10.000 horas são consideradas para quem deseja se tornar um profissional com nível mundial em alguma atividade. 

Estamos aqui para mostrar que tudo precisa de tempo e esforço, e não talento. Seja para a música, esporte ou idioma. Um método de aprendizagem é mais importante do que talento.

E que combinado com constância, com “vários pouquinhos”, você vai atingir seus resultados muito mais rápido.

E como nossa memória funciona?

Você sabia que nosso cérebro consome 20% de toda a energia do nosso corpo? – até pra você que acha que tem uma memória de peixe. Pra ter uma comparação, o seu coração consome só 10%. 

Agora imagine se todas as informações a que somos expostos fossem absorvidas pelo nosso cérebro. Seria um caos! Tudo o que você viu, ouviu, sentiu, experimentou ficariam passando pela sua cabeça o tempo todo.

Por isso, se seu cérebro não revê algum estímulo, ele não considera importante, e assim, descarta.

Essas informações são “guardadas” e a “busca” é feita através de conexões entre os nossos neurônios – as chamadas de sinapses. As informações “navegam” por eles em uma velocidade de 360km/h. No entanto, quando estamos aprendendo algo, elas são realizadas de maneira mais lenta. 

E essas conexões entre neurônios ficam fragilizadas quando não são usadas – quando não somos novamente expostos ao mesmo estímulo. E é isso que faz com que a gente esqueça.

Para tornar essas conexões mais fortes (chamado de Potenciação de longa duração na Neurociência) e para que nossas memórias sejam guardadas na “Memória de Longo Prazo”,, é preciso sempre estimulá-las, seja de maneira deliberada (quero estudar!) ou não-deliberada (vou ler um livro [Extensive Reading] ou assistir um filme).

Repetições espaçadas ajudam a fortalecer essas conexões e nos fazer lembrar mais

Você sabe o que são as Repetições Espaçadas? Hermann Ebbinghaus descreveu em 1.800 a Curva do Esquecimento. É a velocidade que nos esquecemos das coisas. Poucos minutos depois do que aprendemos, esquecemos. Ebbinghaus fez um teste selecionando palavras sem nenhum significado como CKL, XOR e percebeu que esquecemos 80% da informação ainda no primeiro dia. 80%!

Assim, chegou na conclusão de que estímulos espaçados ajudavam a lembrar essas palavras e representou nesse gráfico uma maneira de seguir.

Ou seja, após 1 dia, o conteúdo é revisado. Após 3 dias, ele é revisado novamente, e assim por diante.

O que Ebbinghaus estava fazendo era justamente fortalecer as conexões entre os neurônios, tornando a “busca” de memórias mais rápida e eficaz.

Conforme evoluímos no aprendizado, essas conexões são feitas de maneira mais fluída. Isso significa que precisamos fazer menos esforço – ou quase nenhum – para nos lembrar de algo, se tornando algo automático.

Um exemplo disso é quando estamos aprendendo a dirigir um carro. No início, parece tão difícil combinar acelerador, freio, embreagem, mudar a marcha prestando atenção no som motor etc.

Depois de um tempo, isso se torna completamente automático e você se pergunta: Como cheguei até aqui?

Seja aprender a dirigir, tocar um instrumento, dominar um esporte ou ser fluente em um idioma, precisamos da mesma coisa: prática.

O importante papel das emoções na aprendizagem

Faça um teste respondendo essas duas perguntas:

  1. Com quem foi o seu primeiro beijo?
  2. O que você almoçou na terça-feira passada?

Muito provavelmente você se lembra com quem foi o primeiro beijo e não tem a mínima ideia do que almoçou, né?

As emoções possuem um papel fundamental no aprendizado. E é por isso que devemos levá-la em conta desde o início.

Não parece ser muito legal ficar revisando palavra por palavra a cada 1-3-7 dias, certo?

Por isso, todo o processo de aprendizagem deve ter uma motivação: Quando falamos de idiomas, esse motivo pode ser profissional, pode ser pelas oportunidades que essa nova língua nos trará, ou pode ser por algum outro motivo pessoal, como se identificar com uma cultura, pela literatura ou cinema e até mesmo porque conheceu alguém de outro país.

Como o processo não é rápido (lembre-se da importância de se ter isso na cabeça), manter a motivação, às vezes, pode ser algo difícil. Por isso, o processo de aprendizagem deve ser através de uma maneira que não exija sacrifícios. E isso passa pelo tipo de material que vai ser consumido.

Não é porque um livro de romance está em francês que você deve lê-lo. Você gosta de romance? Se não, não leia!

Quer aprender a meditar? Então é por aí que você deve ir!Está aprendendo a tocar um instrumento novo? Aprenda com as músicas que você gosta!

Lembre-se, é um processo longo, não se cobre demais, isso pode funcionar ao contrário e diminuir a sua empolgação.

E aos poucos, com os resultados aparecendo, essa motivação vai ganhando energia extra para você continuar no seu caminho. Desse jeito, com certeza você vai aproveitar mais o caminho.

Dicas para aprender de um jeito mais eficaz

Ufa! Falamos bastante, mas entender como nós aprendemos é importante para poder resumir o que precisamos fazer para então tornar esse processo mais prazeroso e eficaz.

Crie uma rotina

Quando começamos a aprender algo novo, estamos muito motivados. Nas duas primeiras semanas, passamos horas e horas dedicadas a esse nosso novo objetivo. Geralmente é assim, certo?

O problema é quando essa motivação se transforma em pressa, e com ela, é criada uma expectativa muito alta, onde qualquer decepção pode tornar a aprendizagem frustrante.

E para não cair na desmotivação, a rotina tem um papel fundamental.

Aprender um idioma não deve ser algo estressante, e com uma rotina de estudos definida, esse processo será ainda mais prazeroso e sem pressão.

Para desenvolver qualquer habilidade nova, seja aprender um idioma ou tocar um instrumento musical, é melhor praticar pouco todos os dias do que muito um só dia.

Criamos uma rotina de estudo de idiomas mostrando como você pode ter muito contato com um idioma estrangeiro sem fazer muito esforço.

Siga essa rotina para aprender sempre mais

Existem vários conselhos que muitas vezes parecem – e são! – óbvios. Todo mundo já conhece, mas quase ninguém aplica.

Pergunta: Quais foram as atividades que você deixou de fazer e que sabe que te fariam melhor?

Pergunta 2: Você, alguma vez tentou, de verdade, aplicá-las na sua vida?

Isso acontece em todas as áreas da nossa vida. Sabemos que para ter uma vida saudável precisamos: Comer bem, evitar fumar e consumir bebidas alcoólicas, devemos nos exercitar etc etc etc. Práticas que nos trariam benefícios e são conhecidas por todos.

Ir uma vez na academia por semana e passar 2 horas lá não vai te dar mais resultados do que passar apenas 30 minutos por dia, em quatro dias diferentes.

Com idiomas é a mesma coisa. É melhor passar 5 minutos todos os dias do que uma hora em uma semana.

Siga essa rotina, seus resultados virão muito mais rápido.

Tenha foco enquanto estiver estudando

Remova qualquer tipo distrações como o celular, desligue a televisão ou música – a não ser que esteja estudando a música. Nós não somos feitos para multitarefas. Esteja presente: A prática consciente faz uma grande diferença no estudo.

No stress: Relaxe! Coloque na cabeça que esse é um processo devagar, mas se for feito sempre, os resultados são praticamente garantidos. Por isso, é importante pegar conteúdos que estejam no seu nível, o prazer de compreender vai te relaxar.

Ao contrário, o stress produz adrenalina e cortisol, alteram o seu modo de pensar, elaborar e guardar novas informações e dificulta na hora de resolver problemas.

Se alimente bem, beba água, respire e bora.

Passa o seu tempo com o que você gosta!

O Input (entrada) de conteúdo é fundamental para o aprendizado. É assim que crianças aprendem sua língua materna. Elas são “bombardeados” de informações durante todo o dia, e somente após entenderem os significados, começam também a utilizá-las e finalmente a se expressarem.

Para aprender um novo idioma, Escutar e Ler é fundamental.

Algumas dicas de como esse Input pode ser feito com qualidade e quantidade:

Utilize tempo morto: O tempo exposto a uma determinada atividade é uma das chaves de qualquer tipo de aprendizado. Como foi falado Utilize o Tempo Morto para passar mais tempo para aprender. Seja no ônibus ou no carro, na academia, limpando a casa ou cozinhando, esses momentos do nosso dia podem se transformar em algo mais produtivo. Escute um podcast ou aproveite para colocar as músicas que você mais gosta no idioma que está aprendendo.

Entender é fundamental: A gente só aprende quando entende. Se você não tem nenhum contato com a língua alemã, escutar a rádio em alemão não vai te ajudar em nada a desenvolver esse idioma. Você não vai absorver muita coisa e no final, serão horas e esforço feitos em vão, além de diminuir a sua motivação por se sentir frustrado(a) por não ter entendido nada.

Dê alguns passos atrás e encontre conteúdos que estão no seu nível, assim, você vai fortalecer o que já sabe e começar a aprender novos termos e expressões.

Escolha um conteúdo que te agrade: Mantenha sua motivação assistindo canais no YouTube que te interessam de verdade, não porque estão no idioma que você está aprendendo! Assim, você transforma todo processo de aprendizagem de um idioma em algo prazeroso, fazendo algo que você faria na sua língua.

Repita: Quando estamos estudando um idioma e não atingimos um nível onde não dominamos tudo o que estamos escutando ou lendo, a repetição pode ser o que falta para você passar para o próximo nível.

Ela nos auxilia a fortalecer nossos pontos fortes e identificar onde temos mais dificuldade.

Existe uma grande diferença entre entender algumas estruturas, palavras e expressões com dominar. Só seremos capazes de nos expressar, seja escrevendo ou falando, quando tivermos domínio sobre o que e como vamos falar.

E a repetição é essa peça fundamental para fortalecer o que já tivemos algum tipo de contato e expandir nosso domínio, tornando possível memorizar palavras e utilizá-las com maior fluência, sem precisar ficar pensando antes de falar.

Fontes

https://www.youtube.com/watch?v=f2O6mQkFiiw – TED – Como praticar eficazmente… para quase qualquer coisa – Annie Bosler e Don Greene

https://pdfs.semanticscholar.org/72ee/4e24a0123a7566d1237ddf77d8c7d4805aba.pdf – COGNITIVE PROCESSES IN CREATIVITY

https://projects.ict.usc.edu/itw/gel/EricssonDeliberatePracticePR93.PDF – The Role of Deliberate Practice in the Acquisition of Expert Performance

https://www.youtube.com/watch?v=yOgAbKJGrT
A – How memories are create

https://journals.physiology.org/doi/full/10.1152/physrev.00014.2003?view=long&pmid=14715912& – Long-Term Potentiation and Memory

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